Enfermagem Ecológica (N. 242) Parceria: O Porta-Voz e Painel do Coronel

sábado, 21 de dezembro de 2013

ROSALDA PAIM: TEORISTA DE ENFERMAGEM


sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

CAPÍTULO I

TEORIA SISTÊMICA ECOLÓGICA CIBERNÉTICA DE ENFERMAGEM

ROSALDA PAIM

 

CONSIDERAÇÕES


     
Inspirados em ideias de Mário Chaves, contidas em seu livro “Saúde e Sistemas”, a partir do ano de 1972, redirecionamos nossos trabalhos práticos e, consequentemente, sua descrição, passando a utilizar a "abordagem sistêmica", sobretudo porque estes trabalhos já vinham se desenvolvendo, mais ou menos nessa linha, por influência de literatura que continha a chancela da Organização Mundial de Saúde e da Organização Pan-americana de Saúde.
                 Com base em nossas experiências no ensino e, nas atividades assistenciais de enfermagem, até então, ao longo de cinco lustros e, na Teoria Geral dos Sistemas, bem como em outros setores do conhecimento, elaboramos, a partir de 1969, a "Teoria Sistêmica de Enfermagem", no bojo de Tese de Livre-Docência, defendida na Pontifícia Universidade Católica (PUC), do Rio de Janeiro, em l974.
                 A Teoria Sistêmica de Enfermagem foi republicada no livro "Problemas de Enfermagem Centrados nas Necessidades do Paciente" e, em Um Paradigma para a Enfermagem - Teoria Sistêmica Ecológica, de nossa autoria.
                Após novas experiências de campo e estudos teóricos, reprocessamos a referida teoria, aplicando o próprio princípio de "retroação", assimilado por ela, por empréstimo da Cibernética, o que permite a introdução de sucessivos reajustes, no decurso de suas aplicações práticas, tantas vezes quantas se fizerem necessárias e, assim, para enfatizarmos uma abordagem  simultânea  do sistema em estudo e do ambiente em que o mesmo está inserido, rebatizamo-la como "Teoria Sistêmica Ecológica de Enfermagem", designada atualmente como "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem", por constarmos que as três ciências contribuíram igualmente na elaboração da mesma.
                 Com esta  designação foi publicada nos livros "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - Uma Visão Holística da Enfermagem - 1a. e 2a. Edições.

                 Esta teoria corresponde a um esforço no sentido de estabelecer um roteiro para sintetizar e sistematizar os conhecimentos de enfermagem desenvolvidos, até então, bem como a metodologia de trabalho do enfermeiro, em consonância e harmonia com o pensamento científico e as ideias sociais contemporâneas.
                 Para este mister, utilizamos os princípios unificadores, totalizadores, globalizantes, holísticos, da Teoria Geral dos Sistemas, considerada com propriedade, por diversos autores, como uma Inter ciência ou, mesmo, como uma ciência das ciências, associados desde logo à Ecologia, por entendermos que os estudos de quaisquer sistemas não deveram ocorrer de maneira dissociada  do exame das peculiaridades do ambiente que os envolve, os quais se afetam reciprocamente, mercê de contínuos e permanentes intercâmbios que podem ser sintetizados como “trocas de matéria, energia e informações”, daí a participação da química, da física e da teoria da informação.
                  Compulsamos o estruturalismo, face o seu estreito parentesco com o sistemismo e ser  relevante no que concerne à estrutura ou “anatomia” dos sistemas, assim como o funcionalismo que, para alguns autores, até se confundem com o sistemismo, tendo pertinência com o estudo do funcionamento, ou “fisiologia” dos sistemas.   
                   Ao tratarmos do homem que, como os demais sistemas vivos são regulados por mecanismos de “feedback” naturais e, os sistemas construídos pelos homens, incluindo os tecnológicos e administrativos, como o próprio sistema de saúde e seus subsistemas, os quais podem ser dotados,  também de mecanismos de “feedback”, ainda que virtuais, para otimizar seu funcionamento, quando poderemos considerá-los cibernéticos ou, ao menos, “cibernetizados”, não seria cabível deixar de incluir, neste trabalho, a cibernética, “a ciência da informação e dos mecanismos de controle, no homem, na máquina e na sociedade” e que pode ser sintetizada como a própria ciência do “feedback”.
                  Servimo-nos Cibernética (integrante da Teoria Geral dos Sistemas), da Teoria das Informações (integrante da Cibernética) e da Fisiologia, as quais em associação com a Ecologia, para construir Sistemismo Ecológico Cibernético Informacional, um sistema de referência de natureza holística, destinado a alicerçar a "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - Um Paradigma Holístico para a  Enfermagem", mas ela está também fundamentada em princípios de Biologia, Física, Química, Fisiologia (Bioquímica e Biofísica), Higiene, Nutrição, Educação, Medicina Preventiva, Saúde Comunitária, Psicologia (principalmente a Gestáltica, Filosofia, Pedagogia, Direito,  Genética, Teoria da Evolução, ciência da Administração e de outros ramos do conhecimento científico, entre os quais, como é óbvio, os relativos à Enfermagem.
                 Face à utilização da abordagem sistêmica, designamos inicialmente, o conjunto de proposições apresentadas, como "Teoria Sistêmica de Enfermagem", mas, poderíamos, desde então, tê-la intitulada, igualmente, "Teoria Cibernética de Enfermagem", pois o organismo humano, considerado como um "sistema aberto" e auto regulável (sistema cibernético), bem como o emprego nela do princípio de retroação (retroalimentação ou "feedback"), emprestado da Cibernética, da mesma forma como acontece com o uso do enfoque sistêmico, permite caracterizá-la, também, desta maneira.
                 A "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética" corresponde ao propósito de reunir num corpo de doutrina, tanto quanto possível uno, harmônico e coerente, um conjunto de Princípios, Normas, Regras, Definições e seus Corolários, capazes de servirem, ao menos provisoriamente, para nortear os rumos de uma enfermagem científica e do enfermeiro moderno, na busca contínua de seu verdadeiro papel e de um perfil profissional adequado à realidade, vigente em nossos dias.
                 Toda ciência possui um objeto de estudo, um sistema de referência, uma teoria e, quase mesmo, um método próprio.
                Daí surge, também, a necessidade de se construir, para a Enfermagem, um discurso característico - o discurso sistêmico ecológico cibernético.
                 Assim, a enfermagem, para se alçar à condição de ciência, não prescinde de articular o seu sistema discursivo peculiar, para a conquista de sua identidade.
                 O marco referencial da "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem" é o Sistemismo Ecológico Cibernético Informacional que constitui uma abordagem de natureza holística, na linha da complexidade, centrada no conceito de "Homem Sistêmico e Cibernético”, situado num ambiente, também sistêmico e cibernético
                 Nesta ótica, enfatiza-se a totalidade e integralidade do homem e, da mesma forma, é focalizado o substrato ecológico em que o "homem sistêmico e cibernético” está inserido, por isso mesmo, valorizam-se as relações ecológicas no que se refere ao seu estado de equilíbrio, homeostasia (saúde).
                 Numa visão sistêmica da gênese dos processos patológicos, destaca-se a teoria da multicausalidade, que postula que a doença não resulta de causa única, mas da concorrência de vários fatores, expressos pela síntese das relações recíprocas da tríade ecológica: agente, hospedeiro e ambiente, o que corresponde, também, ao conceito ecológico de saúde e doença.
                 Mas, a "Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética" não se preocupa primordialmente com a doença, e, nem somente com as especificações das entidades nosológicas, pois que seu alvo é a saúde e, como tal, prioriza os conhecimentos da fisiologia humana que pode, toda ela, ser traduzida por constantes intercâmbios de matéria, energia e informações intrassistêmicas, que ocorrem entre os diversos subsistemas do sistema humano e, entreo somatório destes, como um todo, e o ambiente (Vide Princípio das Transmissões Intrassistêmicas de Informações e Princípio de Facilitação das Trocas, das Ações Simultâneas e de Adequação do Ambiente), preconizando, ainda, que as ações do enfermeiro se efetuem, predominantemente, através de cuidados de natureza preventiva que inclui, necessariamente uma vida ativa, em oposião franca aos hábitos sedentários. .
                 Destarte, esta teoria almeja contribuir para alçar o enfermeiro à condição de profissional da saúde por excelência, ao considerar a doença e suas sequelas, apenas, como uma intercorrência no decurso do processo vida que, ressalvadas as predisposições genéticas e influências ambientais, são resultantes da ausência de hábitos saudáveis de vida e/ou de falhas na condução das atividades de assistência preventiva, estas, compreendidas, principalmente, como a supressão ou redução das agressões decorrentes das condições dos ambientes: físico, biológico, tecnológico e social, ou resultantes da maneira errada de viver, principalmente no que se refere a inadequação das ações de seleção de matéria, energia e informações e o correspondente intercâmbio entre o ser humano e o ambiente.
                 Um aspecto de grande relevância e perfeitamente evidenciado é que, eventos posteriores ao advento da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética, tais como a evolução do conhecimento científico (incluindo o próprio desenvolvimento da enfermagem), a criação e estruturação do Sistema Nacional de Saúde do Brasil, o advento das "Ações Integradas de Saúde" (AIS), a promulgação da  Lei n. 7.498, de 25 de Junho de 1986, que regula o exercício da enfermagem no Brasil e estabelece as atribuições do enfermeiro, a criação do Sistema Unificado de Saúde (SUS), o processo de globalização planetária, além de não contrariar os postulados desta teoria, ao reverso, vieram contribuir no sentido de justificá-la e consolidá-la.
                 A Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - Uma Visão Holística da Enfermagem se constitui numa abordagem dinâmica, totalizante, abrangente, sintética, globalizante e integrativa, por isso mesmo de natureza holística, não só do ser humano sistêmico e cibernético (família, comunidade, sociedade), do ambiente, inclusive da enfermaria,  do enfermeiro, do sistema de saúde, do sistema de enfermagem e de seus metassistemas (sistema de saúde e sistema sociedade), tudo visualizado como sistema (Princípio de Universo Sistêmico).
                 O ponto de partida de nosso trabalho decorreu da premissa de que as teorias de enfermagem, até então vigentes, face ao seu caráter fragmentário, analítico, em dissonância com caráter sistêmico do organismo humano e da complexidade do processo assistencial de enfermagem, dificultavam a sua transposição para nossas atividades práticas, daí entendermos que uma abordagem mult referencial: sistêmica, estruturalista, gestáltica, ecológica e cibernética, permitiria uma visão de conjunto (holística) de certa realidade, antepondo-se, assim, à parcialidade e reducionismo do paradigma cartesiano, o qual foi de grande utilidade para o desenvolvimento científico e tecnológico, tendo desfrutado seu período de apogeu, mas agora está em fase declinante, cada dia, mais superado pelos avanços da ciência, mormente da física moderna, por isto precisa ser reajustado de acordo com a realidade contemporânea, caracterizada por um pensamento complexo, global, holístico.
                 A mudança de paradigma na ciência estava a exigir o mesmo direcionamento na enfermagem, cujo espirito e ideias centrais foram assimilados e sintetizados pela Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética que adquiriu seus atributos globalizantes, em substituição aos enfoques casuísticos e fragmentários das teorias que pareciam limitar sua operacionalização e utilização.
                 A enfermagem, agora apoiada em sua Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética, passa a ocupar espaços vazios na saúde e, de acordo com o Princípio do Papel Integrador, torna-se o principal dispositivo de integração do sistema de luta do ser humano para conservar a vida, manter a saúde  componente essencialada qualidade de vida, perpetuar a espécie, atingir uma maior longevidade e uma velhice saudável, adiar a morte e, face à inexorabilidade desta, já que todo ser vivo é programado para morrer, torná-la menos traumática.
                 Nesta visão, a enfermagem toma um direcionamento contínuo e transcendente, abrangendo não apenas todas as fases do ciclo vital, situados entre os parâmetros: inicial - o nascimento e, terminal - a morte, mas até extrapolando estes dois extremos, para abranger o período pós-morte imediato, como postula o Princípio da Extrapolação Vital.
                 Assim, o sistema de enfermagem constituiria o dispositivo facilitador e integrador do sistema de intercâmbio de matéria, energia e informações entre o homem (sistema) e seu ambiente (ecossistema), como postulam os Princípios de Facilitação das Trocas, do Papel Integrador, de Abrangência do Ecossistema, das Ações Simultâneas, de Adequação do Ambiente e outros.
                 Esta postura inclui aspectos que nenhum ramo do conhecimento, até agora, reivindicou para si e, muito menos propôs uma teoria que justificasse a adoção desta perspectiva, agora incorporada ao saber da enfermagem.
                 A partir desta visão, a enfermagem transcenderia à própria medicina, já que aquela, dependente desta, em suas origens, não apenas se tornaria independente, como poderia, num futuro, não muito remoto, até mesmo, contê-la no seu bojo, face ao caráter mais totalizante, abrangente e globalizante de suas ações sobre o ser humano, tanto na saúde como na doença, em todas as fases do ciclo vital e, até mesmo, extrapolando-o para abranger o instante da morte e o pós-morte imediato, além de que sua atuação se extende para alcançar obrigatoria e constantemente, o ambiente circundante do cliente (visão ecológica), como prescreve o Princípio das Ações Simultâeas que inclui o sistema humano e o seu entorno (ecossistema). 
                 Com fundamento, primordianlmente,  na Teoria Geral dos Sistemas, na Ecologia,  na Cibernética e, na Teoria da Informação, formulamos os princípios da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética - Uma Visão Holística da Enfermagem, que por razões didáticas, dividimos em três grupos:
        - Princípios Básicos - aplicáveis a quaisquer ramos do conhecimento científico, integrantes, tanto da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, quanto do Sistemismo Ecológico Cibernético Informacional.
-    Princípios Comuns - relativos às ciências de saúde e à ciência de enfermagem.
-    Princípios Específicos - próprios da Enfermagem.
                

entresistema considerado e o respectivo ambiente, afetando-se mútua e reciprocamente